A declaração do governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil), de que não pretende instalar uma Delegacia da Mulher com atendimento 24 horas em Várzea Grande, repercutiu fortemente no meio político e social do estado. A fala foi considerada desrespeitosa e gerou reações imediatas, sobretudo da prefeita do município, Flávia Moretti (PL), que classificou a situação como “dolorosa” para as vítimas e cobrou urgência do Executivo estadual.
Em entrevista à Rádio Jovem Pan Cuiabá, na manhã desta terça-feira (30), Flávia fez um apelo direto ao governador, lembrando que o prédio para abrigar a unidade já existe e está com aluguel e custeio pagos. O que falta, segundo ela, é apenas a equipe para garantir o funcionamento contínuo.
“Não dá mais para esperar. O que as mulheres de Várzea Grande precisam é de uma delegacia 24 horas. Eu tenho a caneta aqui no município, mas essa decisão é dele, que tem a caneta no Estado. O custo é mínimo para o governo, mas o benefício social é imenso”, afirmou a prefeita
Desamparo e desistência
Flávia destacou que muitas mulheres agredidas sequer conseguem registrar um boletim de ocorrência online, pela condição emocional em que se encontram, e acabam sendo obrigadas a buscar atendimento em delegacias comuns.
“Elas são encaminhadas para ambientes extremamente masculinos, como a Central de Flagrantes, e muitas acabam desistindo por falta de acolhimento ou até mesmo por não ter dinheiro para se deslocar até Cuiabá”, relatou.
Além do impacto em Várzea Grande, a instalação da delegacia 24 horas também beneficiaria cidades vizinhas da comarca, como Livramento, onde os índices de violência doméstica são altos e a cultura machista ainda é muito presente.
Críticas ao governoA reação da prefeita foi acompanhada por parlamentares, como a vereadora Gisa Barros (PSB), que usou a tribuna da Câmara Municipal para condenar a postura do governador. Segundo ela, o discurso de Mauro Mendes demonstra insensibilidade com a realidade das vítimas.
“Violência contra a mulher não é uma ponte para atravessar, é um abismo que o Estado tem que fechar. É vergonhoso ver delegacias fechadas em plena madrugada enquanto mulheres gritam por socorro”, declarou.
As críticas também atingem a contradição entre o discurso de “Tolerância zero” na segurança pública e o ranking que coloca Mato Grosso como um dos estados mais violentos do país, com ao menos 40 mulheres assassinadas apenas nos primeiros nove meses deste ano.
Apelo político e social
Para Flávia, o tema deve ser tratado como prioridade de Governo e não como gasto supérfluo.
“Mulheres espancadas, com o olho roxo, muitas vezes sem dinheiro no bolso, não têm a quem recorrer. Falar que esse investimento não é necessário é desumano. Eu clamo ao governador que reveja sua posição”, disse.
Com mais de 52% do eleitorado de Várzea Grande formado por mulheres, lideranças locais alertam que o descaso pode ter consequências políticas.
“As mulheres não vão esquecer essa fala”, afirmou a vereadora Gisa Barros.